domingo, 7 de julho de 2013

O Pequeno Príncipe

Cap. VIII

Pude bem cedo conhecer melhor aquela flor.Sempre houvera,no planeta do pequeno príncipe ,flores  muito simples,ornadas de uma só fileira de pétalas,e que não ocupavam lugar nem incomodavam ninguém.
Apareciam certa manhã na relva,e já tarde se extinguiam.Mas aque4la brotara um dia de um grão trazido não se sabe da onde, e  o principezinho vigiara de perto o pequeno broto,tão diferente dos outros.Podia ser uma nova espécie de baobá.Mas o arbusto logo parou de crescer,e começou então a preparar uma flor.O principezinho que assistia à instalação de um enorme botão,bem sentiu que sairia dali uma aparição miraculosa;mas a flor não acabava mais de preparar-se,de preparar sua beleza,no seu verde quarto.
Escolhia as cores com cuidado.vestia-se lentamente,ajustava uma a uma  suas pétalas.Não queira sair,como os cravos ,amarrotada.No radioso esplendor da sua beleza é que ela queria aparecer.Ah!sim. era vaidosa.Sua misteriosa toilette,portanto durara dias e dias.E eis que uma bela manhã,justamente à hora do sol nascer,havia-se afinal mostrado.
E ela,que se preparara com tanto esmero,disse bocejando:
-AH! eu acabo de despertar...Desculpa ... Estou ainda toda despenteada...
O principezinho,então,não pode conter o seu espanto:
-Como és bonita!
-Não é? respondeu a flor  docemente.Nasci ao mesmo tempo que o sol...
O principezinho percebeu logo que a flor não era modesta.Mas era tão comovente!
-Creio que é hora do almoço,acrescentou ela.Tu poderias cuidar de mim...
E o principezinho ,embaraçado,fora buscar um regador com água fresca,e servira à flor.
Assim ela o afligira logo com sua mórbida vaidade.
Um dia por exemplo,falando dos seus quatro espinhos,dissera ao pequeno príncipe:
-É que eles podem vir,os tigres,com sua garras!
-Não há tigres no meu planeta,objetara o principezinho.E depois ,os tigres não comem erva.
-Não sou uma erva,respondera a flor suavemente.
_Perdoa-me...
-Não tenho receio dos tigres,mas tenho horror das correntes de ar.Não terias acaso um paravento?
"Horror das correntes de ar..Não  é muito bom para uma planta,notara o principezinho.É bem complicada essa flor..."
-À noite me colocarás sob a redoma.Faz muito frio no  teu planeta.Está mal instalado.De onde venho...Mas interrompeu-se de súbito.Viera em forma de semente.Não pudera conhecer nada dos outros mundos.Humilhada por se ter deixado apanhar por uma mentira tão tola,tossiu duas ou três vezes,para por a culpa no príncipe:
-E o paravento?
-Ia buscá-lo.Mas tu me falavas...
Então  ela redobrara a tosse para inflingir-lhe remorso.
Assim  o principezinho ,apesar da boa vontade do seu amor,logo duvidara dela.Tomara a sério palavras sem importância ,e se tornara infeliz.
"Não a devia ter escutado , confessou-me um dia- não se deve nunca escutar as flores.Basta olhá-las,aspirar o perfume. A minha embalsamava o planeta,mas eu não me contentava com isso.A tal história das garras,que tanto me agastara,me devia ter enternecido...."
Confessou ainda:
"Não soube compreender coisa alguma!Devia tê-la julgado pelos atos,não pelas palavras.Ela me perfumava,me iluminava...Não devia jamais ter fugido.Deveria ter-lhe adivinhado a ternura sob seus  pobres ardis.São tão contraditórias as flores!Mas eu era jovem demais para saber amar.

Bronye!


quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

O Pequeno Príncipe-Cap.7

Cap.7
No quinto dia ,sempre graças ao carneiro,êste segredo da vida do pequeno príncipe me foi de súbito revelado.
Perguntou-me,sem preâmbulo,como se fora o fruto de um problema muito meditado em silêncio:
-Um carneiro ,se come arbusto,come também a flores? 
-Um carneiro come tudo que encontra.
-Mesmo as flores que tenham espinhos?
-Sim.Mesmo as que têm.
-Então. . . para que servem os espinhos?   
Eu não sabia.Estava ocupadíssimo naquele instante,tentando desatarrachar do motor um parafuso muito apertado.Minha pane começava parecer demasiado grave,em  breve já não teria água para beber. . . 
-Para que servem os espinhos?
O principezinho jamais renunciava a uma pergunta,depois que a tivesse feito.Mas eu estava irritado com o parafuso e  respondi qualquer coisa:  
-Espinho não serve para nada.São pura maldade das flores.
-Oh !
Mas após um silêncio,ele me disse com uma espécie de rancor:
-Não acredito !As flores são fracas.Ingênuas.Defendem-se como podem.Elas se julgam terríveis com seus espinhos. . . 
Não respondi.Naquele instante eu pensava:" Se esse parafuso ainda resiste,vou fazê-lo saltar a martelo".O principezinho perturbou-me de novo as reflexões:
-E tu pensas então que as flores . . .
_Ora! Eu não penso nada.Eu respondi qualquer coisa.Eu só me ocupo  com coisas sérias!
Ele olhou-me estupefato:
-Coisas sérias!
Via-me ,martelo em punho  ,dedos sujos de graxa,curvado sobre um feio objeto.
-Tu falas como as pessoas grandes...
Senti um pouco de verginha.Mas ele acrescentou,implacável:
-Tu confundes todas as coisas ...Mistura tudo!
Estava realmente muito irritado.Sacudia ao vento seus cabelos de ouro:
-Eu conheço  um planeta onde há um sujeito vermelho,quase roxo.Nunca cheirou nenhuma flor.Nunca olhou uma estrela.Nunca amou ninguém.Nunca fez outra coisa senão somas.E o dia todo repete como tu:"Eu sou um homemsério ! Eu sou um homem sério!" e isso o faz inchar-se de orgulho.Mas ele não é um homem:é um cogumelo !
-Um o quê!
-Um cogumelo!
O principezinho estava agora pálido de cólera.
-Há milhões e milhões de anos que as flores fabricam espinhos.Há  milhões e milhões de anos que os carneiros as comem,apesar de  tudo.E não será sério procurar compreender porque perdem tanto tempo fabricando espinhos inúteis?Não terá importância a guerra dos carneiros e das flores?
Não será mais importante que as contas do tal sujeito? E se eu,por minha vez,conheço uma flor única no mundo,que só existe no meu planeta,e que um belo dia um carneirinho ppode liquidar num só golpe,sem avaliar o que faz,-isto não tem importância?!

Corou um pouco,e continuou sem seguida:
-Se alguém ama uma flor da qual só existe um exemplar em milhões e milhões de estrelas,isso basta para que seja feliz quando as contempla.Ele pensa:"Minha flor está lá,nalgum  ligar. . ."Mas se o carneiro come a flor,é para ele,bruscamente,como se todas as estrelas se apagassem" E isto não tem importância !
Não pode dizer mais nada.Pos-se bruscamente a soluçar.
A noite caíra.Larguei  as ferramentas.Ria-me do martelo,do parafuso,da sede e da morte.Havia numa estrela,num planeta,o meu,a Terra,um principezinho a consolar!Tomei-o nos braços. Embalei-o. E lhe dizia:"A flor que tu amas não está em perigo...
Vou desenhar uma pequena mordaça para o carneiro...Uma armadura para a flor...Eu..."
Eu não sabia o que dizer.
Sentia-me desajeitado.
Não sabia como atingí-lo,onde encontrá-lo...
É tão misterioso,o país das lágrimas!




   
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Namastê! 

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O PEQUENO PRÍNCIPE-Cap. 6

Cap.6

Assim eu comecei a compreender,pouco a pouco ,meu pequeno principezinho , a tua  vidinha melancólica.Muito tempo não tiveste outra distração que a doçura do pôr de sol.
Aprendi êsse novo detalhe quando me disseste,na manhã do quarto dia:

- Gosto  muito de pôr de sol.Vamos ver um...
-Mas é preciso esperar...
- Esperar  o quê?
-Esperar que o sol venha.
Tu fizeste um ar de surprêsa,e , logo depois,riste de ti mesmo.Disseste-me:
-Eu imagino sempre estar em casa!
De fato.Quando é meio dia nos Estados Unidos,o sol,todo mundo sabe,está se deitando na França.Bastaria ir a França num minuto para assistir o pôr de sol.
Infelizmente,a França é longe demais .Mas no teu pequeno planêta,bastava  apenas recuar um pouco a cadeira.E contemplavas o crepúsculo tôdas as vêzes que desejavas...
-Um dia eu vi o sol se pôr quarenta e três vêzes ! 
E um pouco mais tarde acrescentaste:
-Quando a gente está triste demais, gosta do pôr de sol . . .
-Estavas tão triste assim no dia dos quarenta e três?
Mas o principezinho não respondeu.   
*** 

Namastê!   

 

sábado, 2 de fevereiro de 2013

O PEQUENO PRÍNCIPE-Cap.5

Cap.5

Dia a dia eu ficava sabendo mais alguma coisa do planêta, da partida,da viagem. Mas isso devagarinho,ao acaso das reflexões.
Foi assim que vim conhecer,no terceiro dia,o drama dos baobás.
Dessa vez ainda,foi fraças ao carneiro.Pois bruscamente o principezinho me interrogou,tomado de grave dúvida:
-É verdade que os carneiros comem arbustos?
-Sim .É verdade.
-Ah! Que bom  !
Não compreendi logo porqu era tão importante que os carneiros comessem arbustos.Mas o principezinho acrescentou:
-Por conseguinte   êles comem também os baobás?
Fiz notar ao principezinho que os baobás não são arbustos ,mas árvores grandes com igrejas.E que mesmo que êle levasse consigo todo rebanho de elefantes,êles não chegariam a dar cabo de um único baobá.
A idéia de um rebanho de elefantes fez  rir o principezinho:
-Seria preciso botar um por cima do outro...
Mas notou ,em seguida,sabiamente:
-Os baobás,antes de crescer são pequenos.
É fato!Mas por que desejas tu que os carneiros comam baobás pequenos?
-Por que deveria de ser? respondeu-me,como se tratasse de uma evidência.E foime preciso um grande esfôrço de inteligência para compreender sózinho êsse problema..
Com efeito,no planêta do principezinho havia,como em todos os outros planêtas,ervas boas e más.Por comseguinte,sementes boas de ervas boas;sementes más de ervas más.Mas as sementes são invisíveis.Elas dormem no segrêdo da terra até uma cisme despertar.Então ele espreguiça,e lança timidamente para o sol um inofensivo galhinho.Se é roseira ou rabanete,podemos deixar cresça à vontade.Mas quando se trata de uma planta ruim,é preciso arrancar logo,mal tenhamos conhecido.Ora havia sementes terríveis no planêta do principezinho:as sementes de baobá.O solo do planêta estava infestado.E um baobá,se a gente custa a descobrí-lo ,nunca mais livra dêle.Atravanca todo o planêta.Perfura-o com sua raízes.E se o planêta é pequeno e os baobás numeroso,o planêta acaba rachando.
"É uma questão de disciplina,me disse mais tarde o principezinho.Quando a gente acaba a toilette da manhã,começa a fazer com cuidado a toilette do planêta.É preciso que a gente se conforme em arrancar regularmente os baobás logo que se distanciam das roseiras,com as quais muito se parecem quando pequenos.É um trabalho sem graça,mas de difícil execução". 
E um dia aconselhou-me a tentar um belo desenho que fizesse essas coisas entrarem de vez na cabeça das crianças..'Se algum dia tiverem de viajar,explicou-me,poderá ser útil para elas.Às vezes não há inconveniente em deixar um trabalho para mais tarde.Mas quando se trata de baobá,é sempre uma catástrofe.Conheci um planêta habitado por um preguiçoso.Havia deixado três arbustos.
E ,de acordo com as indicações do principezinho,desenhei o tal planêta.Não gosto de tomar o tom de moralistta.Mas o perigo dos baobás é tao pouco conhecido, e tão grande os riscos daquele que se perdesse num asteróide,que,ao menos uma vez,faço exceção à
minha reserva.E digo portanto:"Meninos!Cuidado com os baobás!" Foi para advertir meus amigos de um perigo que há tanto tempo os ameaçava,como a mim,sem que pudéssemos suspeitar,que tanto caprichei naquele desenho.A lição que eu dava valia a pena
Perguntarão,talvez:Por que não há nesse livro outros desenhos  rão grandiosos como o desenho dos baobás?A resposta é simples:tentei ,mas não consegui.Quando desenhei os baobás,estava inteiramente possuído pelo sentimento de urgência.






Namastê!

* Deixei a grafia  da época da edição