sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O Pequeno Príncipe-Cap.4

Cap.4

Eu aprendera ,pois,uma segunda coisa,importantíssima:o seu planêta de origem era pouco maior que uma casa!
Não era surprêsa para mim.Sabia que além dos grandes planêtas-Terra,Júpiter,Marte ou Vênus,aos quais se deram nomes,há centenas e centenas de outros,pôr vezes tão pequenos que mal se vêem no telescópio.
Quando o  astrônomo descobre um dêles,dá-lhe por nome um número.Chama-o por exemplo " asteróide 3251".
Tenho várias razões para supor que o planêta de onde vinha o príncipe era o asteróide B 612.
Êsse asteróide só foi visto uma vez ao telescópio,em 1909,por um astrônomo turco.
Êle fizera na época uma grande demonstração da sua descoberta num Congresso Internacional de Astronomia.Mas ninguém lhe deu crédito,por causa das roupas que usava.As pessoas grandes são assim.
Felizmente para reputação do asteróide B 612,um ditador turco obrigou o povo,sob pena de morte,vestir-se à moda européia.O astrônomo repetiu sua demonstração em 1920,numa elegante casaca.Então dessa vez,todo o mundo se convenceu.
Se lhes dou êsses detalhes sôbre o asteróide B 612 e lhes confio o seu número,é por causa das pessoas grandes.
As pessoas grandes adoram os  números .
Quando a gente lhes fala de um novo amigo,elas jamais se informam do essencial.Não perguntam nunca:"Qual é o som da sua voz? Quais os brinquedos que prefere? Será que coleciona borboletas?"
Mas perguntam:
"Qual sua idade?  Quantos irmãos tem êle? Quanto pesa? Quanto ganha o seu pai?"
Sómente então é que elas julgam conhecê-lo.Se dizemos às pesssoas grandes:"Vi uma bela casa de tijolos côr-de-rosa,gerânios na janela,pombas no telhado...'elas não conseguem,de modo nenhum,fazer uma idéia da casaa.É preciso dizer-lhes; ''Vi uma casa de seiscentos contos''.Então elas exclamam:''Que beleza"
 Assim se a gente lhes disser:'' A prova de que o principezinho existia é que êle era encantador ,que êle ria,e que êle queria um carneiro.Quando alguém quer um carneiro,é porque ele existe''elas  darão de ombros e nos chamarão de criança!Mas se dissermos:O planêta de onde êle vinha é o asteróide B 612'' ficarão inteiramente convencidas,e não amolarão com perguntas.
Elas são assim mesmo.
Épreciso não lhes querer mal por isso.As crianças devem ser muito indulgentes com as pessoas grandes.
Mas nós,nós  que compreendemos a vida,nós não ligamos aos números!Gostaria de ter começado esta história à moda dos  contos de fada.Teria gostado de dizer.
''Era uma vez um príncipe que habitava um planêta pouco maior que êle,e que tinha necessidade de  um amigo...''Para aquêles que compreendem a vida,isto pareceria sem dúvida muito mais verdadeiro.
Porque eu não gosto que leiam meu livro leviamente.Dá-me  tanta tristeza narrar essas lembranças! Faz já seis anos que meu amigo se foi com seu carneiro.
Se tento descrevê-los aqui,é justamente porque não o quero esquecer.
È triste esquecer um amigo.Nem todo o mundo tem amigo.E eu corro o risco de ficar como as pessoas grandes,que só se interessam por números.Foi por causa disso que comprei uma caixa de tintas e alguns lápis também.É duro pôr-se a desenhar na minha idade,quando nunca se fêz outra tentativa além das jibóias fechadas e abertas dos longínquos seis anos!
Experimentarei,é claro,fazer os retratos mais parecidos que puder.Mas não tenho muita esperança de conseguir.Um desenho parece passável;outro,já é inteiramente diverso.Engano-me também no tamanho.Ora o principezinho está muito grande,ora pequeno demais.Hesito também quanto a côr do seu traje.
Vou arriscando então,aqui e ali.
Enganar-me-ei provavelmente em detalhes dos mais importantes. Mas é preciso desculpar.
Meu amigo nunca dava explicações.Julga-me talvez semelhante a êle.Mas ,infelizmente,não sei ver carneiro através da caixa.
Sou um pouco como as pessoas grandes.
Acho que envelheci.

Namastê!  

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

O Pequeno Príncipe-Cap.3

Cap.3

Levei muito tempo para compreender de onde viera.
 O príncipezinho ,que me fazia milhares de perguntas ,não parecia sequer escutar as  minhas.Palavras  pronunciadas ao acaso é que foram,pouco a pouco revelando  tudo. 
Assim,quando viu pela primeira vez meu avião (não vou desenhá-lo aqui,é muito complicado para mim),perguntou-me bruscamente.
-Que coisa é aquela?
-Não é uma coisa.Aquilo voa .É um avião.O meu avião.
-Eu estava  orgulhoso de lhe comunicar que eu voava.Então êle exclamou:
-Como?Tu caíste do céu?
-Sim,disse eu modestamente.
-Ah! como é engraçado. . .

E o príncipezinho deu uma bela risada,que me irritou profundamente.
Gosto que levem a sério as minhas desgraças.Em seguida acrescentou:
-Então,tu também vens do céu!De que planêta és tu?
Vislumbrei um clarão no mistério da sua presença,e interroguei bruscamente:
-Tu vens então de outro planêta?
Mas ele não me respondeu.Balançava lentamente a cabeça considerando o avião:
-É verdade que,nisto aí,não podes ter vindo de longe. . .

Mergulhou então num pensamento que durou muito tempo.Depois, tirando do bôlso o meu carneiro,ficou contemplando o seu tesouro.

Poderão imaginar que eu ficara intrigado com aquela semiconfidência sôbre "os outros planêtas".Esforcei-me,então,por saber mais um pouco.
-De onde vens,meu bem? Onde é tua casa?para onde queres levar meu carneiro?
Ficou meditando em silêncio,e respondeu depois:
-O bom é que a caixa que me deste poderá ,de noite,servir de casa.
-Sem dúvida.E se tu fores bonzinho,darei também uma corda para amarrá-lo durante o dia.E uma estaca.
A proposta pareceu chocá-lo:
-Amarrar?Que idéia esquisita"
-Mas se tu não o amarras,êle vai-se embora  e se perde. . . 
E meu amigo deu uma nova risada:
-Mas onde queres que êle vá?
-Não sei...Por aí...Andando sempre para frente.
Então o príncipezinho observou,muito sério .
-Não faz mal,é tão pequeno onde moro!
E depois ,talvez com um pouco de melancolia,acrescentou ainda:
-Quando a gente anda sempre para frente,não pode mesmo ir longe. . . .      

Namastê!